vinte e sete de novembro

dez é o número de vezes que a gaivota bateu as asas para alcançar o voo sublime. contei, questão de segundos. nesse tempo você pode estar acendendo seu camel na sala ou tamborilando os dedos na mesa da cozinha, enquanto espera ferver a água para o café. questão de detalhes. estou no meio de uma travessia entre o Rio e Paquetá e de repente tudo se interrompeu. tempo, essa barreira silenciosa. o rastro do seu vestido vermelho subindo pelas paredes.

vida moderna

mesmo com tantos buracos ainda me sinto presa às redes. vai só um braço ou vai só uma perna, nunca o corpo inteiro. nem rosto, só a boca que abre seguido do grito. tormento. mas, finalmente, estou aprendendo a usar o diafragma, o que é um alívio. expandir as laterais do corpo, criar espaços para o ar, para o que está por vir. suavidade: desejo. um dia me salvo


gana

sinto uma fome enorme
sou capaz de comer tudo
do teto ao chão
na escada, em cima da máquina de lavar,
na pia da cozinha, até na cama
como você
de ladinho numa manhã
que se esquenta de laranja
bem aos poucos

pra fechar, pra abrir

foi no banheiro
sob a água fria
que bati a última
siririca
de dois mil & dezesseis
sentada na sua boca
seu nome explodindo
entre meus pés